Por Club Pos

22 de abril de 2025

*Crise no Frigorífico Boibras expõe fragilidades do setor cárneo e abre debate sobre concorrência e gestão empresarial

O frigorífico Boibras, de São Gabriel do Oeste (MS), acumula R$ 270 milhões em dívidas e enfrenta recuperação judicial desde 2023, enquanto compartilha espaço com a BMG Foods, empresa em franca expansão. O caso expõe contrastes operacionais, suspeitas de sonegação e impactos socioeconômicos, exigindo maior fiscalização e equilíbrio na indústria da carne

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O frigorífico Boibras, sediado em São Gabriel do Oeste (MS), está em situação crítica, acumulando cerca de R$ 270 milhões em dívidas, das quais R$ 219 milhões são com a União, envolvendo impostos e contribuições previdenciárias não recolhidas. Outros R$ 51 milhões referem-se a dívidas com credores privados, como bancos, pecuaristas e ex-funcionários. Em recuperação judicial desde agosto de 2023, a empresa tenta reorganizar suas finanças para evitar a falência.


Conhecida por suas marcas Big Beef e Nobratta, a Boibras operava com aproximadamente 400 funcionários e realizava o abate de cerca de 500 cabeças de gado por dia no auge de suas atividades. A recuperação judicial busca renegociar os débitos com credores privados, uma vez que os tributos federais seguem tramitando em processos separados de execução fiscal.


Em março de 2025, a Justiça Federal tentou bloquear R$ 151,7 mil das contas do frigorífico. No entanto, o juiz da recuperação judicial, José Henrique Neiva de Carvalho Silva, considerou que a medida comprometia o plano de reestruturação aprovado, decidindo pela liberação dos valores para assegurar a continuidade das operações da empresa.


O caso ganha contornos ainda mais complexos pelo fato de que, no mesmo complexo industrial onde a Boibras opera, também está instalada a BMG Foods, frigorífico que se destaca atualmente como o terceiro maior do Brasil em volume de abate. Ambas compartilham o endereço no km 606 da BR-163 e dividem a planta industrial, apesar de possuírem CNPJs distintos e formalmente estarem registradas em diferentes unidades do mesmo complexo.


Os dois grupos também têm em comum o envolvimento de seus dirigentes em investigações por sonegação fiscal. Régis Luiz Comarella, proprietário da Boibras, é investigado por tributos não recolhidos. Já Jair Antônio de Lima, fundador da BMG Foods, foi apontado em investigações nos anos 2000 como líder de um esquema de sonegação no antigo Grupo Torlim. Após o desmantelamento do grupo, sua atuação continuou por meio do Frigorífico Concepción no Paraguai e, posteriormente, retornou ao Brasil com a fundação da BMG Foods.


A crise da Boibras tem impacto direto sobre fornecedores e trabalhadores, muitos dos quais ainda não receberam pagamentos devidos e enfrentam dificuldades financeiras. Para pecuaristas e ex-funcionários, a recuperação judicial representa uma esperança incerta de reembolso. O cenário revela fragilidades estruturais do setor de carnes e levanta questionamentos sobre a eficácia das políticas públicas de fiscalização fiscal, trabalhista e concorrencial.


Conclusão


A crise da Boibras evidencia os riscos de concentração de mercado, fragilidades na governança empresarial e lacunas na regulação do setor frigorífico.


O contraste entre duas empresas que compartilham a mesma planta industrial, mas vivem realidades financeiras opostas, demanda atenção das autoridades quanto à transparência, à competitividade e ao cumprimento das obrigações legais por parte dos grandes players do setor.


As informações foram apuradas com base em:


  • Compre Rural Notícias (2025) – reportagem principal de 17 de abril de 2025 sobre a recuperação judicial da Boibras.
  • Correio do Estado (2025) – cobertura das decisões judiciais relativas ao bloqueio de valores e ao andamento da recuperação.
  • Correio do Estado (2004) – histórico de investigações contra o Grupo Torlim, com envolvimento de Jair Antônio de Lima.
  • Documentos judiciais da Vara de Falências de Campo Grande (2023–2025) – decisões sobre a manutenção das atividades da Boibras e sobre a competência da Justiça na recuperação.
  • Site institucional da BMG Foods (2025) – informações sobre a origem da empresa e sua relação com o Frigorífico Concepción.


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