Por Club Pos
15 de setembro de 2025
*Ordem Cósmica na Visão do Egito Antigo
A cosmologia egípcia via o universo como dinâmico e sustentado pela Maat, princípio da ordem e da harmonia. As divindades representavam forças complementares que garantiam o equilíbrio entre vida, morte e renovação, assegurando a continuidade do cosmos.

ordem cósmica na visão do Egito Antigo
A religião egípcia não era apenas um conjunto de crenças sobre deuses, mas sobretudo uma forma de interpretar o cosmos e garantir sua continuidade. O universo, para os egípcios, não era visto como algo estático, mas como uma realidade dinâmica que precisava ser constantemente sustentada pela Maat, o princípio da ordem, da verdade e da justiça. A partir desse eixo, as divindades representavam forças que estruturavam e mantinham a harmonia do mundo.
No alto do cosmos, Nut, a deusa do céu, era representada como uma mulher arqueada sobre a terra, cujo corpo estrelado abrigava o ciclo diário do sol e das estrelas. Era ela quem engolia o astro solar todas as noites, para dar à luz novamente ao amanhecer. O sol em si era personificado por diferentes formas divinas: Rá, o grande deus solar de Heliópolis; Atum, o sol do entardecer e criador primordial; e Khepri, o escaravelho que simbolizava o nascer do sol e a renovação constante. Juntos, esses aspectos explicavam a eternidade e o movimento cíclico da vida.
Entre os deuses maiores, encontramos Osíris, senhor do além e símbolo da regeneração, acompanhado de sua esposa Ísis, a grande maga e mãe divina. Hórus, filho de Ísis e Osíris, representava a realeza e a vitória da ordem sobre o caos, sendo adorado também em sua forma solar como Harakhte (“Hórus do Horizonte”), associado à trajetória diária do sol. A deusa Hathor, ligada ao amor, à fertilidade e à música, expressava o aspecto mais nutritivo e protetor da divindade.
No campo político e religioso, Amon ganhou grande destaque, sobretudo no Império Novo, como deus oculto do ar e criador universal, muitas vezes sincretizado com Rá como Amon-Rá, senhor dos céus e das potências invisíveis.
A sustentação do cosmos também dependia de forças elementares: Shu, deus do ar, e Tefnut, deusa da umidade, que separaram o céu (Nut) da terra (Geb) no mito da criação. Geb, o deus da terra, ocupava o nível inferior do cosmos, recebendo o peso de todos os seres e sustentando a vida. Apesar de estar “abaixo” na hierarquia simbólica, sua importância era vital, pois era nele que germinava a fertilidade.
Outros deuses completavam esse equilíbrio cósmico. Néftis, irmã de Ísis, era protetora dos mortos e guardiã do limiar entre vida e morte. Anúbis, com cabeça de chacal, presidia a mumificação e guiava as almas no tribunal de Osíris.
Thot, deus íbis ou babuíno, garantia a escrita, o tempo e o conhecimento, sendo mediador entre os deuses. Seth, por sua vez, representava o caos, a violência e a desordem, mas também era necessário como contraponto ao equilíbrio da Maat. Sekhmeth, a leoa destruidora, simbolizava o poder do sol em sua fúria, mas também a proteção contra inimigos. Knum, o deus oleiro, moldava a vida no torno de barro, criando os corpos humanos e garantindo a renovação da existência.
Desse modo, ainda que seja difícil estabelecer um panteão fixo — pois o Egito Antigo reunia diferentes tradições locais e teológicas —, todos esses deuses estavam relacionados a conceitos fundamentais que descreviam a ordem cósmica. Eles eram manifestações da luta permanente contra o caos (Isfet) e da manutenção da harmonia universal (Maat), garantindo que o mundo permanecesse em equilíbrio e que o ciclo da vida, da morte e da renovação não fosse interrompido.
Fontes
Hornung, Erik. Idea into Image: Essays on Ancient Egyptian Thought. New York: Timken, 1992.
Assmann, Jan. Ma'at: Gerechtigkeit und Unsterblichkeit im Alten Ägypten. München: C.H. Beck, 1990.
Wilkinson, Richard H. The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt. London: Thames & Hudson, 2003.
Allen, James P. Middle Egyptian: An Introduction to the Language and Culture of Hieroglyphs. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.